Transcendental

Esta saudade que me invade a alma
devagar, bem devagar, pé ante pé,
vem de longe, Meu Bem, vem de outras vidas,
vem de viagens, d’outras raças, d’outra gente,
vem de uma terra estranha e bem longínqua...
vem de montanhas, lagos, de oceanos
onde juntos vivemos grande amor...
Vem da cabana à beira de um rio,
sem luz, sem água, sem conforto algum...
mas tinha seu calor que me abrigava,
e a iluminar-me a luz dos olhos teus.
Quando o tempo esfriava , na lareira
ardia a lenha, e nós dois bem juntinhos
sonhávamos trilhar pelos caminhos
da longa estrada que é a Eternidade!
Mas veio o tempo, a tempestade, a morte,
e noutra vida não voltamos juntos...
Enquanto eu vivo nas praias rente ao mar
onde quase sempre é verão,
tu vives nas montanhas entre as neves,
e tens o frio como um companheiro...
Não nos vemos, Amor, mas nos sentimos...
não nos tocamos,
não sei onde tu estás, nada sabes de mim...
há que esperar mais uma vez, querido,
o tempo, a tempestade, a morte enfim,
aceitando da vida o que nos dá,
cumprindo-a sem ódio, sem reclamos!
Quem sabe, assim, Meu Bem, em outra vida
Deus te trará, Amor, bem junto a mim!

(Rosa Magaly Guimarães Lucas)

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